A ética começa em seu conselho de administração

A ética começa em seu conselho de administração

Ethisphere Institute, uma empresa com sede no Arizona, Estados Unidos, lista desde 2007 as empresas mais éticas do mundo. Apesar das limitações de todas as espécies de lista, sempre passíveis de críticas por questões metodológicas, é interessante para os gestores de integridade perceberem dois fenômenos interessantes nesse rol de grandes corporações que foram escolhidas.

O primeiro, informado pela própria empresa, é a de que as empresas listadas nos últimos cinco anos como as mais éticas superaram em mais de vinte e quatro por cento o índice de capitalização de mercado de grandes empresas, ou seja, aquelas que possuem esse índice acima de 10 bilhões de dólares (Solactive US Large Cap Index (GTR). Isto mostra que a preocupação com o comportamento ético e socialmente responsável rende frutos, ou, se quiserem ver apenas uma correlação, indica as empresas mais bem administradas.

Mas, para nós brasileiros, o interessante notar é a quase inexistência de empresas nacionais nesse rol de mais de cem companhias premiadas. Salvo a Natura, gigante brasileira na área de cosméticos, que participa dessa lista desde 2011, poucas outras empresas nacionais entraram nesse ranking. Isso, obviamente, já que essa escolha depende da inscrição espontânea do candidato, pode ser apenas um reflexo da desinformação a respeito dessa premiação. Entretanto, pode não ser apenas isso.

Quem sabe seja, e é bem provável que isso esteja ocorrendo, apenas o desinteresse das companhias brasileiras por investir tempo e dinheiro – a inscrição para o prêmio exige uma taxa de pouco mais de três mil dólares – em mais uma atividade ligada ao compliance. Certamente há um enorme fosso comparativo entre as empresas puramente nacionais e as multinacionais, sediadas ou não no Brasil, no interesse e investimento em conformidade ética. Aqui, diversamente dos Estados Unidos, os programas de integridade ainda são pouco compreendidos.

Veja que mesmo multinacionais brasileiras como a Petrobras, com seu enorme investimento em integridade após os escândalos da Lava Jato, ainda patinam em muito critérios de governança que hoje estão bem estabelecidos no exterior. Por exemplo, um dos critérios de escolha das empresas mais éticas adotados pela Ethisphere é o de diversidade de gênero entre os membros do board. Dificilmente veremos índices comparáveis entre empresa brasileiras e estrangeiras nesse aspecto, especialmente em uma área tão dominada pelos homens como o de óleo e gás.

Contudo, dos 11 membros do recém-eleito Conselho de Administração da Petrobras há apenas duas mulheres. Além disso, trata-se de um órgão composto apenas por pessoas brancas, sem qualquer representatividade da diversidade étnica do país. Muitos podem argumentar que isso decorre da estrutura profissional e educacional dessa área especificamente, mas é a busca da diversidade que deve preceder a diversidade dos candidatos em si, pois se trata de uma ação afirmativa que busca corrigir desigualdades na medida justa de sua ocorrência.

A esperança é que questões dessa espécie estejam cada vez mais na mente dos acionistas e controladores. Adotar o ESG não pode ser apenas de forma retórica, mas deve ser realizada com ações concretas. Tenho certeza de que esse é um caminho sem volta, mas o Brasil não pode ficar simplesmente empacado nele.

Sem comentarios

Sorry, the comment form is closed at this time.