A cultura de conformidade e a crise

A cultura de conformidade e a crise

Em um país em crise, com os empresários lutando para conseguir sobreviver aos próximos meses e pessimistas quanto ao próximo ano, falar sobre a implantação de um programa de conformidade na empresa pode parecer como tentar vender aquecedores no deserto. Como em tudo na vida, entretanto, a abordagem correta de um problema pode permitir que pontos de vista diferentes possam surgir. Assim também acontece em relação aos programas de integridade, que, no momento de dificuldade, ajudam a revelar todo o potencial dos colaboradores por meio de um ambiente ético e inclusivo.

Demonstrar que o compliance é mais que simplesmente um custo para a empresa deve passar pela ideia de que o deserto também tem noites muito frias, apesar do calor insuportável durante o dia. Há claramente vantagens competitivas em se ter um bom programa, e uma delas é justamente o de um melhor ambiente de trabalho. Se num primeiro momento pode não ser adequado investir em um bom programa, é preciso que se saiba que num futuro próximo nenhuma empresa poderá prescindir de um programa de integridade e boa governança.

Para quem já viveu épocas igualmente difíceis, basta lembrar o governo Sarney, com suas filas para a compra de leite e carne, ou o governo Collor, com o congelamento das aplicações financeiras, sabe que a sobrevivência à crise depende muito da própria cultura da empresa. Uma empresa com uma cultura tóxica, comandada com desconfiança dos colaboradores e sem incentivos à participação e à inovação, certamente estará menos apta para a sobrevivência. Como um grande dinossauro poderá sucumbir ao cataclisma e ser sucedido no mercado por novos competidores.

A cultura da conformidade é um elemento muito importante para a resiliência da empresa, portanto. Investir para se diferenciar, para acessar mais e melhores mercados, para ter acesso preferencial ao mercado financeiro, para ter uma boa imagem perante os colaboradores, mas também com os fornecedores e consumidores, é inteligente. Resiliência e inteligência são essenciais para a boa governança, e uma boa governança não pode prescindir de um programa de compliance eficiente.

O mais difícil cenário para a implantação de uma cultura de integridade é justamente quando a empresa deixou de atentar durante muito tempo para os aspectos éticos nas suas relações com terceiros. A busca do lucro é plenamente justificada, os cortes de pessoal são muitas vezes necessários, mas o compartilhamento dos objetivos do negócio com todos os stakeholders, tornando-os, se não sócios do empreendimento, simpatizantes fiéis da marca e realmente preocupados com o seu futuro pode levar a soluções menos dolorosas para o enfrentamento de uma crise.

Dessa forma, pode ser que hoje a empresa não possa comprar o aquecedor, mas certamente a comunicação de todas essas vantagens pode fazer com que ela perceba que no futuro pode ser muito bom contar com o calor durante o rigor das noites frias. Preparar-se para outras novas crises faz parte da história do empresariado brasileiro e uma cultura de ética e confiança poderá ser a diferença para a sobrevivência nas próximas crises.

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