O que é poder?

O que é poder?

Determinar o comportamento de outras pessoas, fazer com que homens e mulheres façam aquilo que outra pessoa deseje pode parecer conversa autoritária de algum candidato a ditador, mas é, em uma perspectiva racional, o objetivo das leis, regulamentos e códigos de conduta. Fazer com que pessoas se determinem conforme o desejado é na doutrina política o que se chama de “poder”.

Falarei em alguns posts a respeito do assunto. Ele se torna importante, pois a compreensão de como os diversos mecanismos funcionam, seus limites e sua utilidade, auxiliará sobremaneira o entendimento de como pode ser extraído o melhor comportamento daqueles sujeitos às regras de compliance.
Assim, antes de mais nada, temos que distinguir “poder” de “força”. Poder exige sempre que a conduta humana seja voluntária. Dessa forma, se alguém usa da força física, como pressionar nosso dedo para fazer com que apertemos um gatilho de uma arma, ele não está usando seu poder sobre nós, mas simples força. O Estado é o detentor da força legítima, que é o último instrumento para impor sua vontade. Dessa forma, sempre será bom que um criminoso condenado seja convencido a entrar numa cela para cumprir pena, mas se ele não o fizer será colocado lá dentro contra a sua vontade.

Entretanto, se ao Estado é permitido o uso da força, obviamente dentro da lei, o espaço para seu uso por particulares é bastante limitado, além de inconveniente. Quase todas as outras relações humanas que se estabelecem, portanto, são relações de poder. Isso vale para o Estado ou particulares, para as pessoas, empresas ou ONGs. Pessoas desejam comportamentos de outras, independentemente de seu motivo particular, e exercem esse poder sob três formas básicas: a coerção, a persuasão e a manipulação.
Vamos trabalhar com cada uma delas em posts futuros. Mas algumas pinceladas básicas se fazem necessárias.

Primeiro a coerção. Essa é a forma preferida pela legislação. Estabelece-se o comportamento esperado e comina-se uma sanção para o seu descumprimento. Faça isso, pois se não o fizer vai pagar uma multa, ou ser preso etc. – a coerção busca a racionalidade humana em evitar um dano a si mesmo e é relativamente eficiente na consecução de resultados. Podemos incluir aqui também o estabelecimento de prêmios por comportamento esperado, mas isso fica para um post específico.

Outra forma de se exercer poder também pelo apelo para a racionalidade é a persuasão. Nesta hipótese há a exposição das razões pelas quais aquele comportamento é esperado, quais são as suas vantagens e desvantagens e as consequências positivas e negativas para os envolvidos. Espera convencer a pessoa que aquela é a melhor decisão. É a regra politicamente correta, mas enfrenta o fato que as decisões humanas carregam forte conteúdo emocional, o que a faz de eficácia nem sempre garantida, especialmente em situações de falta de homogeneidade entre os sujeitos.

Por fim, há altamente eficaz manipulação. De todas é a mais mal afamada, mas talvez seja a mais presente nas relações humanas. Aqui a pessoa é inconsciente de que a outra deseja o seu comportamento, acreditando através de mecanismos manipulativos como a instalação de medo, desejos confessos ou inconfessos, sugestões subliminares ou outros mecanismos, que a decisão foi tomada por sua livre vontade, independente de outrem. É de todas as formas de exercício de poder a mais eficiente, pois usa das emoções e não da razão como método, mas que possui contra ela seriíssimas questões éticas e até mesmo utilitárias.Mas, sobre isso conversamos em uma próxima oportunidade.

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