O que fazer numa crise (da série Shit Happens)

O que fazer numa crise (da série Shit Happens)

Em artigo anterior (Shit Happens) iniciei uma análise sobre o compliance restaurativo, ou, sobre como agir em caso da empresa se encontrar envolvida em uma crise reputacional. A primeira dica foi: INVESTIGUEM, pois é necessário levantar a situação fática para compreender a extensão do malfeito e as perspectivas para a solução do problema.

A segunda questão que coloco é a gestão dessa solução. Vou focar em uma crise de grandes dimensões, em que haja sério risco do problema ir além de uma questão reputacional e possa impactar as finanças da empresa. O fluxo financeiro é como o sangue no corpo humano, a sua interrupção pode gerar danos seríssimos e até mesmo levar a óbito o negócio.

Nesses casos, a crise deve ser gerida de forma integral, por uma equipe multidisciplinar que inclua não somente os advogados empresariais, regulatórios e criminalistas, mas também especialistas em relações públicas, assessores de imprensa, investigadores forenses e até mesmo psicólogos. Trata-se sempre de um evento essencialmente disruptivo que precisa ser enfrentado de maneira proativa e completa.

Essa equipe deve ser liderada por um advogado experiente em grandes investigações e gestão de crises. É preciso que esse profissional compreenda os aspectos societários, mas também os meandros de grandes investigações criminais, pois normalmente crises dessa magnitude envolvem riscos de acusações criminais contra executivos e empregados, o que pode gerar um ambiente de tensão extrema no interior da empresa, coisa a ser evitada ao máximo.

Entretanto, a condução da restauração à conformidade da empresa não pode se confundir com a pauta da defesa criminal dos executivos e empregados. É preciso clarificar adequadamente as condutas, mesmo em casos de empresas familiares em que a propriedade se confunde com a própria gestão, mas a decisão de qual a melhor solução deve ser tomada em favor da empresa. Para isso é preciso que haja uma coordenação de todos os profissionais sob a liderança de um gestor de crises.

Por óbvio, a solução global do problema deve ser buscada. Ela é como o fim do arco-íris, ou seja, uma miragem, mas dá o caminho da superação da crise. Todos sabemos das dificuldades de negociação com as diversas instâncias regulatórias. O tão sonhado balcão único, o local onde podemos achar o pote de ouro da solução da crise, simplesmente não existe.

O que se deve ter em conta, caso a caso, é qual o melhor movimento a ser dado. Não há resposta pronta para isso. A estrada se abre enquanto a empresa caminha em busca da solução. Há situações muito mais urgentes que outras, e há que se prever as consequências das decisões tomadas.

Um acordo de leniência, acordos de colaboração premiada de executivos, colaboração ativa com as autoridades, reparação de danos e campanhas de marketing, todas as possibilidades, enfim, devem ser analisadas, ponderadas, comunicadas e, ao final, aprovadas ou descartadas. O principal aqui é trazer tranquilidade para todos os stakeholders de que a crise será superada. Mesmo que seja inevitável o dano, a sua rápida precificação é o objetivo de todo gestor de crises.

Sem comentarios

Sorry, the comment form is closed at this time.