Os sinais estão por toda parte? (da série sobre vieses cognitivos)

Os sinais estão por toda parte? (da série sobre vieses cognitivos)

São tantos os vieses cognitivos a que nós humanos estamos submetidos que fica difícil acreditar que somos efetivamente racionais como gostamos de nos imaginar. E um dos mais importantes desses ‘bugs’ mentais é o de encontrar sinais no nosso dia a dia que confirmem e reforcem nossas convicções. “Os sinais estão por toda parte” é talvez a expressão mais comum do chamado viés de confirmação.

Sem querer entrar na questão mística ou religiosa, todos temos histórias de coincidências incríveis que para nós somente poderiam ter uma explicação sobrenatural. O chamado pensamento mágico nos faz notar aquilo que reforça nosso entendimento do mundo, fazendo com que todos os outros “sinais”, ou melhor, fatos que desdizem essa compreensão passem despercebido ou não sejam lembrados.

Saber dessa forma de pensar tão humana é importante para qualquer um interessado em trabalhar em compliance. Primeiro e antes de mais nada, torna-se necessário que o profissional tenha sempre sob escrutínio o seu julgamento pessoal. Intuição é importante, especialmente para aqueles que lidam com fraudes, mas é sempre bom evitar certeza não baseadas em coleta de dados bem realizada. Aqui, como na ciência, é preciso método.

Além disso, compreender a existência desse mecanismo é importante para analisarmos os comportamentos dos diversos stakeholders, sejam funcionários, sejam executivos, e até mesmo o próprio mercado financeiro. É preciso saber como eles verão os diversos “sinais” que a empresa e todos os envolvidos com ela oferecem, pois mesmo que desencontrados e sem qualquer vinculação, um conjunto absolutamente fortuito de fatores pode levar terceiros a conclusões indesejadas.

Esse cuidado é sobremaneira importante em uma crise, pois é justamente quando se está em um momento difícil para a reputação da empresa que é preciso atenção e bom senso na comunicação interna e externa. Sabendo que percepções incorretas podem ser reforçadas por “sinais” da empresa, que nada mais são que ruídos indevidos na comunicação, é preciso que a gestão da crise seja alinhada com uma comunicação eficiente e transparente, evitando-se a escalada da crise reputacional para uma crise financeira.

Para se evitar qualquer viés cognitivo é importante o trabalho em equipe e método. Um grupo de pessoas de qualificação, experiências e backgrounds diversos pode filtrar de maneira mais objetiva as informações, restringindo mediante o exercício da dialética e de dúvida sistemática, ou seja, com método, aqueles fatos que são realmente relacionados como causa e efeito ou possuem causa comum, daqueles que são meras coincidências. Assim agindo pode-se proativamente impedir que versões se sobreponham aos fatos e que a empresa seja soterrada por sinais equivocados.

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