Perfilamento e Compliance

Perfilamento e Compliance

Quem já não assistiu um filme em que um agente do FBI vai a um local de crime e só de observar a cena já tem claro o perfil do criminoso? Seria ótimo se tudo fosse tão fácil como nos filmes, mas isso não quer dizer que o perfilamento não seja cada vez mais eficiente para ajudar investigações policiais para a identificação de criminosos, especialmente em crimes violentos.

É claro, também, que essa discussão sobre “características” criminosas enfrenta sérias contendas éticas. É muito comum ouvir que tudo não passa de um “achismo” baseado em preconceitos, pois muitos preferem acreditar que somos únicos e especiais, não havendo, portanto, meios de sermos categorizados.

Entretanto, se não fosse possível reduzir de certa forma o ser humano a categorias gerais, ciências como a psicologia, e o próprio direito, em menor grau, seriam inúteis. O que nos faz únicos é o nosso mix de formas de pensar que adquirimos por herança genética e pelo ambiente em que nos desenvolvemos. Cada pessoa é única, mas, em determinado grau, classificável.


Além disso, podemos falar também em perfilamento da vítima, pois é muito comum que características destas sejam um dos principais motivos de sua escolha pelo criminoso. Assim era com Jack “o Estripador”, que escolhia prostitutas na Londres vitoriana, por exemplo, ou Ted Bundy, serial killer americano, que escolhia como vítimas mulheres universitárias, brancas, magras e solteiras, com cabelo repartido ao meio e usando calça comprida na ocasião em que eram raptadas.

A percepção desse perfilamento da vítima, inclusive, é uma das armas mais importantes para a prevenção desses crimes e a prisão de um criminoso serial. O que fica claro, entretanto, é que muitas das características dos criminosos e das vítimas de um país não pode ser extrapolado para outro, pois questões culturais de cada país influenciam sobremaneira a formação da motivação perversa.

O perfilamento, normalmente usado para crimes violentos e que tenham por motivação repressões sexuais, poderia ser usado para prevenir crimes do colarinho branco dentro de uma empresa? Isso já é uma questão mais complexa, pois os crimes corporativos têm normalmente motivação patrimonial. Cobiça é muito mais comum e menos identificável que, por exemplo, uma perversão sexual violenta.

Entretanto, há interessantes desenvolvimentos nessa questão. Estudo em países de língua alemã, por exemplo, revelou que nas categorias “fraude”, “furto” e “corrupção” ocorridas na esfera privada, era possível encontrar características pessoais e de formação educacional que eram substancialmente comuns entre os criminosos.


Além disso, também foram identificados os motivos mais comuns para o cometimento desses crimes, que, aliás, não diferem muito daqueles que já são comumente associados com crimes dessa espécie: cobiça, situação financeira difícil, padrão de vida incompatível, pressão por resultados, vingança e até mesmo uma deturpada ideia de justiça.

O estudo traz, também, a questão da oportunidade. Dizem que a oportunidade faz o ladrão, e tudo indica que ausência de supervisão adequada, de controles e excesso de poder sejam elementos importantes para o incentivo do crime.


Evidentemente não é caso de sair por aí aplicando testes psicológicos para descobrir criminosos nas empresas. Afinal, contam como piada que a diferença entre um CEO de sucesso e um criminoso do colarinho branco é que o segundo foi pego. Brincadeiras a parte, o mesmo motor que move o sucesso pessoal é aquele que leva a atos criminosos, diferenciando o primeiro do segundo a conduta ética para atingir o resultado.


De qualquer forma, os estudos de perfilamento devem ser levados em consideração e podem fornecer muitas informações úteis para um bom programa de compliance. Como dizem, os sinais estão por toda parte e não custa nada ficarmos atentos a eles.

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