Vamos pensar em direitos humanos

Vamos pensar em direitos humanos

Procuro ser sempre leve e propositivo quando escrevo sobre compliance. Creio que este assunto não merece ser tratado meramente como custo, como um obstáculo ou um dificultador de negócios. Muito pelo contrário, acredito seriamente que o compliance é um diferencial positivo para empresas e negócios. Ninguém quer ser visto ou fazer negócios com o “dark side of the Force”, não é?

Entretanto, acontecimentos como os de Porto Alegre entristecem e trazem questionamentos importantes sobre conformidade. Entendida em seu mais íntimo significado, compliance significa uma atitude, uma cultura ética de respeito ao planeta e às pessoas. Não se cuida de evitar a lavagem de dinheiro, a corrupção e outras áreas de conformidade como um fim em si mesmo, mas de prevenir sua ocorrência porque elas são nocivas às pessoas, aos cidadãos.

É claro que compliance visa evitar danos reputacionais, mas ver no dano à reputação a essência da conformidade é um erro, pois só existe essa relação entre um fato e sua repercussão negativa reputacional justamente porque esse acontecimento ofende padrões éticos, agride valores básicos da sociedade. Enfim, um programa de compliance visa internalizar em todos os stakeholders o respeito a esses valores, tornando-os parte da cultura da empresa.

Nisso, mais que qualquer outra área, a empresa precisa estar em conformidade com os direitos humanos. Cada vez mais veremos due diligence de direitos humanos para empresas fornecedoras de serviços ou insumos para empresas estrangeiras. Ser fornecedor ou representar uma empresa estrangeira significará ter políticas sérias, honestas, eficientes e proativas para evitar violações de direitos humanos. Essa tendência, como tudo, acabará sendo incorporada aos negócios e será um novo standard também no mercado nacional.

E não estamos falando apenas das tradicionais preocupações com a prevenção do trabalho análogo à escravidão na cadeia de fornecedores, mas também do próprio ambiente de trabalho diverso, livre de situações de constrangimento e assédios por conta de questões raciais, de opção sexual, de gênero, etária, ou qualquer outra forma de discriminação. Medidas preventivas são muito importantes, mas também estabelecer políticas inclusivas e afirmativas conta muito nesse processo.

O certo é que não se pode admitir, seja em que circunstância for, que uma pessoa seja espancada até a morte por qualquer pessoa ligada de qualquer forma a uma empresa, ainda mais dentro das instalações de uma empresa. Situações como essa depõem contra a empresa, mostrando descaso com as consequências da falta de treinamento, corte de custos e, enfim, com a vida e dignidade do ser humano. Temos que incorporar isso definitivamente ao nosso dia a dia e ao das empresas: seres humanos realmente importam e cada individualidade é sagrada.

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